sábado, 5 de setembro de 2015

A copa pode matar

A copa pode matar
Longe, muito longe das concepções de "vira-lata" de Nelson Rodrigues, torço e prefiro que o Brasil seja campeão, mas acho também que para muitos brasileiros a sensação de campeão é exagerada. Observe você, meu leitor, as conseqüências desse desastre. A depressão segundo estimativas da OMS é a doença psiquiátrica mais diagnosticada atualmente.

Nesse cenário cultural, a depressão pode ser conseqüência da tristeza e do desânimo, uma frustração na copa da Alemanha pode ser o estopim para a perda do interesse no trabalho, insônia, astenia, falta de apetite, alterações cognitivas e muitas outras. Como o futebol é a nossa prioridade, jogamos as nossas frustrações e anseios sobre o ludopédio. Agora as atenções são sobre a nossa seleção, é bem verdade também que mais um título pode mexer com a nossa auto-estima. Passamos a nos sentir superiores sobre todas as grandes potências internacionais.

As competições estão em todas as esferas da sociedade, sentimos a obrigação de sermos os melhores, independentemente da classe social e dos objetivos da vida. Por isso a necessidade dos cuidados prévios quando transferimos todas as nossas expectativas. Nos desesperos das grandes derrotas, não é rara a tendência suicida, quando a maneira insidiosa da doença é imperceptível ou muito rápida, as conseqüências são piores. Fica, portanto o desejo na vitória, acompanhado a isso uma grande torcida.
Se depois de toda a nossa euforia o hexa não acontecer, podemos transferir a nossa raiva para uma corrida longa ou uma pedalada. Se assim mesmo não trouxer nenhum alento, uma conversa com os amigos talvez seja o indicado para essas situações de perda.

Além disso, o esporte competitivo mostra-se mais uma vez muito ingrato com sua ideologia. Só comentamos sobre a possibilidade da vitória, não concebemos, muito menos aceitamos, o segundo ou terceiro lugar. A obrigação é a da conquista. Por isso, fica a dica: se há torcedores despreparados para outros resultados que não a vitória, cuide-se. Assistir aos jogos acompanhados de sucos de maracujá é um bom remédio para evitar surpresas. Salve a seleção.


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