quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Atletas com deficiência - Outsiders

Atletas com deficiência - Outsiders
Não por piedade nem por algum remorso, mas gosto muito do assunto deficiência. Não, não tenho ninguém na família com deficiência. Leio e curto esse tema.

Lendo uma tese de doutorado da professora Ruth Eugênia Cidade, doutora da Universidade Federal do Paraná, com o título "Atletas Paraolímpicos: figurações e sociedade contemporânea", me deparo do quanto somos preconceituosos, coisa que já sabia. O método utilizado no trabalho de Ruth foi fundamentado na teoria sociológica de Norbert Elias. O objetivo foi articular a teoria com a fala das atletas paraolímpicas. Nem quero aqui me estender em tratados científicos, mas expor uma teoria do esporte dos deficientes.

Estabelecidos-outsiders, incluídos e excluídos, poder-sem-poder, assim organizamos uma sociedade em evolução, mantendo eternamente a proteção da identidade grupal. Apesar de toda a nossa incapacidade de políticas esportivas, ainda assim mantemos uma seleção de atletas paraolímpicos. São pessoas, na grande maioria, desprovidas de condições estruturais e financeiras para programar o futuro com o esporte e, mesmo assim, constatamos a vivacidade e superação de alguns outsiders.

São verdadeiros atletas, que provam a todos e a todo momento, como superar os próprios limites. "A anomia se refere ao indivíduo, pois a ausência ou conflito de normas faria com que as pessoas procurassem estratégias e soluções individuais, não sancionadas por uma escala de valores consensual", diz a professora.
E aí constatamos como somos limitados fisicamente e emocionalmente. Buscamos desculpas para tudo, inclusive para nos mexermos, para resolver nossos problemas. Nunca mais me esqueci quando, na Paraolimpíada de Atlanta, escrevendo para o Jornal do Estado, de Curitiba, sentado na arquibancada para assistir à competição de natação, vi dois auxiliares colocarem um homem sem as pernas e os braços. E não é brincadeira nem força de expressão: na piscina, o atleta paraolímpico atravessou a piscina de 50 metros nadando apenas com os movimentos do tronco, ou melhor, executando técnicas do nado golfinho.

Após a prova, todos os presentes se emocionam com tal façanha. Um verdadeiro herói, um verdadeiro atleta. Aí me pergunto, quem são os outsiders? Quem é normal? Escrevo isso para dizer que os nossos representantes nacionais paraolímpicos também se preparam para representar o país, e sempre mostram do que são capazes.

No Paraná, cinco atletas representaram o Brasil no total de 26 paraolímpicos em Atenas. São os nossos verdadeiros atletas, mostrando que, apesar das dificuldades, todos somos capazes.

Penso diferente de alguns pressupostos do trabalho de Ruth, segundo quem "a incerteza e a insegurança nas relações sociais permite que os indivíduos não sejam reconhecidos, fiquem esquecidos, soltos, sem raiz, tomando-se anônimos". Não. Eles são os nossos verdadeiros heróis.
P.S.: segundo o mesmo trabalho, os outsiders também existem no próprio meio de atletas deficientes, ou melhor, em qualquer meio.


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