segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Capoeira no centro do mundo

Capoeira no centro do mundo
Discute-se muito, hoje em dia, a importância de se resgatar as brincadeiras de rua de antigamente, coisas que os "maduros" sabem muito bem quais eram e para que serviam. Tudo era muito simples e direto, brincava-se porque era legal, jogava-se pelo fato de se divertir. Não quero aqui falar do meu "campinho da velha", centro educativo e formativo de muitas gerações. Fui elemento da última geração de cidadãos que se não se formaram craques de bola, tornaram-se bons companheiros.

Que saudades do pique, toca-do-coelho, esconde-esconde, futebolzinho na calçada. Outros já diriam bumba-meu-boi, quadrilha, pastoril, ou mesmo a capoeira. Como professor de Educação Física, sei o quanto limitamos nossos alunos com as atividades chamadas de "pedagógicas" e cada dia percebemos o quanto estamos distantes das maiores verdades. Nosso esforço para que as crianças gostem das aulas de educação física torna-se sufocante, cada dia mais desmotivante.

No ano passado fui convidado para ministrar um curso em Macapá, a capital do Amapá. Depois da aula me sentei para fazer um lanche numa praça próxima à faculdade. Sem perceber, estava em frente a uma roda de capoeira, todos os participantes eram crianças, o que me impressionou muito. Depois, pelo horário, 19h30, pelo clima, com muita chuva (no norte era inverno) e o professor, um pré-adolescente. Todos se organizavam e jogavam capoeira como se fosse uma demonstração, estavam felizes pela oportunidade de estar brincando organizadamente.
Crianças de 7, 8, no máximo 15 anos, muitos talvez de classe muito pobre, todos estavam concentrados na atividade principal, certamente longe das drogas e da violência.
Naquele momento me deparei com a importância de estar assistindo a um espetáculo belíssimo, na linha do Equador, ou como dizem os macapaenses, centro do mundo. Se as crianças por natureza conseguem se organizar para praticar uma arte tão necessária e digna da cultura brasileira, por que estamos perdendo o hábito de conviver com as crianças em movimento?

Sem nenhuma ciência por trás do meu neo-raciocínio, tenho a impressão que os brinquedos comprados em lojas sofisticadas, somados aos desperdícios de tecnologia, ocupam as crianças muito bem. Centradas na curiosidade, elas deixam de se mexer e de brincar livremente. O cuidado de manter as crianças dentro dos quartos de dormir ou, quando muito, na garagem, garante o "bem estar dos filhos".

O mesmo acontece com as aulas de educação física. Mantemos os alunos trancafiados nas quadras, e se eles fossem poucos, o metro quadrado seria um latifúndio, como diria o mestre Armando Nogueira. Coisa que não é verdade em nenhuma escola.

Sei também que mudar um contexto cultural e de gerações com exemplos de antigamente soa muito careta, mas que dá saudades dá, principalmente de quando chegávamos em casa todos sujos de barro e as mães diziam: "Você acha que eu sou sua empregada? "


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