quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Dona Ana e a vila

Dona Ana e a vila
Lembrar do Clube Atlético Ferroviário é lembrar do Durival Britto, a Vila Capanema, o estádio em que trabalhava o capitão. Muitas gerações do Ferroviário conheceram o militar reformado que, além do trabalho diário na administração dos contratos dos jogadores, era pai de um jogador. Este, recém - contratado, e que gostava de matar aulas do Grupo Escolar Conselheiro Zacarias para se divertir no infantil do Coxa. Ficava mais fácil controlar o rebento se estivesse jogando no próprio clube que trabalhava.




Assim fez o capitão Barcímio Baptista Lins Sicupira, que trouxe o filho Barciminho, mais tarde conhecido como Sicupira, para jogar no juvenil do Ferroviário. Foram alguns anos de Vila antes de se transferir para o timaço do Botafogo do Rio. Grudada num radinho de pilha de marca Philco Tropic, todos os finais de semana uma torcedora especial, que não podia assistir aos jogos no campo, porque na época as mulheres eram proibidas pelos maridos, dona Ana, tinha dupla missão. Ela sofria como poucos, torcendo pelo filhinho, aquele menino que ainda podia dar certo na vida e, pelo emprego do marido. A torcida, obviamente, era pelos dois da Vila, o marido capitão e o filhinho promessa.
Muitos anos se passaram, mas Ana Ribeiro Sicupira, até hoje sente saudades daquela época. Tinha certeza que, em qualquer campo que Sicupira jogasse, seria consagrado. A mesma certeza tinha, pelo esforço e competência demonstrados pelo marido, que os títulos eram questão de tempo. Tudo aconteceu, menos a presença de dona Ana no estádio. Hoje com 98 anos, com uma memória de elefante, gostaria de pelo menos uma chance de ver de perto, até porque ainda não precisou de óculos, de saborear dos prazeres de assistir a um jogo de futebol na vila Capanema, de corpo e alma presentes.

Lógico que não quer ser homenageada, quer apenas relembrar dos anos dourados que passou ao lado do seu radinho, um velho companheiro de lazer. Hoje não é dia das mães, a vila já foi reinaugurada, mas o esporte também se faz como gente como dona Ana Sicupira, atrás dos bastidores, acreditando e incentivando as promessas do nosso esporte. Elas, as mães, nunca são lembradas nas grandes comemorações do esporte. Dona Ana, sim, fez parte do sucesso da Vila. Parabéns.


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