segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Judô caminho suave

Judô caminho suave
Jigoro Kano, nascido no Japão, fundador do judô, sempre foi um homem franzino e baixo. Era muito mais intelectualizado do que atleta, mas algo de diferente havia nesse homem quase misterioso. No século passado, o jitsu (formas antigas de artes marciais), usava-se muita força aliado a pouca técnica, ou seja, os mais fracos não podiam lutar com os mais fortes.

Reza a lenda que Jigoro Kano costumava brincar com seu gato, e que ao jogar o animal no chão, na posição em que o bichano estivesse, ele sempre caia em pé e nunca se machucava. Somou-se a destreza do bicho com a curiosidade de um homem. "Sempre é possível cair com leveza", dizia Kano. Nos invernos do Japão, ele passava horas vendo os galhos das cerejeiras se curvarem para ceder à neve. Poucos galhos se quebravam, apesar do peso que sustentavam. Essas experiências filosóficas orientais fluíram ao mundo moderno como a arte do caminho (dô) suave (ju).




Desde 1882, quando foi criada a Kodokan (caminho fraterno), a primeira academia formal do Japão, que o homem busca a sua identidade. As quedas (ukemis) no mundo industrializado nem sempre são acompanhadas da suavidade, o processo da busca da felicidade continua obscuro e a filosofia de vida do terceiro milênio continua mergulhada em um tatame borrado de insegurança.
O judô tradicional orientou velhos guerreiros em homens na busca da paz, através dos ensinamentos: "Deveria haver um princípio em particular, prevalecendo sobre todos os demais, que governaria todas as atividades do homem".

As quedas eram, na essência, uma preparação para as frustrações de um mundo novo; os golpes de projeções eram, na verdade, um alicerce para novas conquistas; as saudações (cumprimentos), um agradecimento e um pedido aos céus. Mais de cem anos depois do início da prática desta luta, hoje vemos as artes marciais como trampolim para benefícios políticos. Os exemplos são muitos, só lembrar da era Mamede, uma espécie de Ricardo Teixeira do judô...


Esses princípios centenários do judô guerreiro mantêm ainda alguns lutadores em pé, movimentando-se nesse piso, o tatame. Só a técnica apurada é capaz de mantê-los lutando pela essência do caminho suave. Que o espírito desses lutadores sobre os shiaijo da vida e os kiais continuem ecoando em nossos corações, para manter acesa a bíblia (Koza) do judô.

Este texto é dedicado aos amigos ausentes fisicamente, mas presentes a todo momento: Júlio Zangari e Kenjiro Hironaka. Eram, e são, mestres do judô que o Paraná não soube reconhecer em toda sua dimensão.


Nenhum comentário:

Postar um comentário