sábado, 8 de agosto de 2015

Zen e a arte da manutenção de bicicletas

Zen e a arte da manutenção de bicicletas
Inspirado no livro do Robert M. Pirsig, "A arte da manutenção de motocicletas", resolvi fazer o meu exercício físico na estrada. Como de costume, acordei cedo e preparei minha bicicleta para um "tiro longo", a mesma BR-277 (entre Curitiba e o litoral), na qual todo bom ciclista gosta de pedalar. Como no livro "Zen e a arte da manutenção das motocicletas", chequei todo o equipamento da magrela, roupa apropriada e, lógico, meus hidratantes. A única coisa que não assenta bem é o capacete, mas deixa pra lá.




O caminho já estava traçado, mesmo antes de chegar à estrada, direto para o pedágio, algo como 30 km para ir e outro tanto para voltar. Como no livro, a sensação é mágica, o intercâmbio com a natureza é mais forte, o enxergar se sobrepõe sobre o olhar. Outra preocupação constante é manter-me sempre no acostamento e pedalar numa velocidade constante. Outro macete importante: é mais seguro e prático a pedalada com algum companheiro que tenha o mesmo ritmo, mas nem sempre isso é possível, pois o tempo é individual e o passeio vira atemporal. Outra vantagem da bicicleta, além da manutenção da saúde, é a terapia sobre duas rodas e, melhor, sem gastar nada.
Continuando: na altura da Renault, em São José dos Pinhais, a uns 10 quilômetros da partida, quando ainda estava aquecendo e flutuando nos meus pensamentos filosóficos, encosta uma moto com dois rapazes, que resmungam algo. Como estava distraído, continuei pedalando e não dei atenção à moto. Pois é, sempre tem a primeira vez. A moto se aproximou e me jogou para um barranco. Quando estou levantando, um cano de revólver se aproxima do meu rosto, mesmo eu achando que era tudo brincadeira ou sacanagem. Nesses momentos, dor não existe, apenas uma mistura de raiva e medo. Minha faixa preta de judô se evaporou naquele instante, a impotência era o nome da cena.

Outra coisa que dói no fundo da alma: todos que passam e vêem o assalto não têm coragem de parar, intervir, ajudar. Paciência, acho que é fruto do nosso desespero. Levaram um dos meus brinquedos preferidos. Tinha uma aproximação muito grande com a minha bicicleta, nós conhecemos alguns lugares incríveis e, ainda por cima, ela nunca me decepcionou.

Consigo uma carona até o pedágio para me refazer do susto. Todo arranhado e repleto de muito ódio do meu país que eu tanto amo. Quando cheguei ao destino, com cara de poucos amigos e muitos inimigos, uma viatura da Ecovia se debanda do lugar para uma nova ocorrência. Informaram-me que era para impedir um suicídio, o cidadão queria se atirar de uma ponte. Pronto, foi o que bastou para a mudança de humor.
Moral da história: antes um homem sem bicicleta do que sem vontade de viver. Como a vida não pode parar, e eu não vou parar de pedalar por isso, acredito que meu pai tinha razão: "Filho, cuide-se."



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